Indico
a leitura deste editorial da Miriam Leitão. Não é a toa que o PT tenta, a todo
o custo, desqualificar a jornalista de economia, embora as suas projeções, mais
cedo ou mais tarde, acontecem. É preocupante porque o Brasil é parceiro
comercial da Venezuela. É preocupante porque o governo do PT é aliado e mancomunado
com o governo venezuelano. Vejam o editorial:
A crise venezuelana não está apenas piorando.
O país está perto do colapso, de uma ruptura, a ponto de o jornal “Financial
Times” ter dito que o default era a melhor opção. A Suprema Corte considerou
que o presidente Maduro pode declarar emergência econômica mesmo após a
rejeição do decreto pela Assembleia. Isso dará a ele poderes ditatoriais sobre
uma economia que Maduro e Chávez arruinaram.
Os economistas dizem que
a recessão venezuelana só é comparável a períodos de guerra ou catástrofe
natural. No mês passado, o BC do país anunciou uma queda de 7,1% no PIB do
terceiro trimestre de 2015, depois de ficar dois anos sem divulgar indicadores.
Mas o cálculo dos economistas é que o país teve uma recessão de 10% no ano
passado e encolherá outros 8% este ano. A inflação foi a 141% e, como o Banco
Central tem financiado o Tesouro com emissão de moeda, deve chegar a 200%. O
decreto de emergência econômica dará a Maduro o poder de expropriar bens e
empresas, intervir em qualquer companhia, obrigar fábricas a aumentar produção,
acessar qualquer fundo extraorçamentário. É uma tirania econômica de quem foi o
responsável pela calamidade.
A queda do preço do petróleo
piorou tudo, mas não foi a causa da crise. O economista venezuelano Ricardo
Hausmann, ex-ministro do Planejamento e professor de Harvard, em recente
artigo, contou que, em 2012, quando o barril do petróleo estava em US$ 103, e o
país tinha superávit comercial forte, o governo do então presidente Hugo Chávez
teve um déficit público de 17,5% do PIB; “uma cifra demencial”, para usar a
expressão de Hausmann.
Se os chavistas fizeram
isso na abundância, imagina na escassez. Com a queda do petróleo, as exportações
despencaram 60% em três anos. E o déficit primário é estimado pelo FMI em 21%
do PIB este ano, indo para 25%. Com a falta de dólares, as importações foram
reduzidas e isso agravou o desabastecimento que sempre houve no governo
chavista. Faltam alimentos, remédios e insumos para a produção. No mercado
paralelo de câmbio, o bolívar sofreu desvalorização de 90% em relação ao dólar
nos últimos 18 meses. O temor dos investidores, neste momento, é que o governo
não consiga honrar o pagamento de sua dívida este ano, em torno de US$ 10
bilhões, e por isso a Venezuela é o país com maior risco soberano no mundo,
pagando um diferencial de juros de 36% em comparação com os títulos do governo
americano.
Hausmann teme por uma
crise humanitária de grandes proporções. Sem acesso a crédito internacional, e
com o setor privado desmobilizado depois de 17 anos de perseguição pelos
governos chavistas, o economista acredita que a melhor saída para diminuir a
crise é o país fechar um acordo com o FMI. Mas isso seria impensável na
administração de Nicolás Maduro.
O economista Sérgio
Vale, da MB Associados, classifica a situação atual na Venezuela como de uma
economia em estado de guerra, sem estar em guerra. O chavismo passou quase duas
décadas se financiando com a alta dos preços do petróleo, que tapava o buraco
nas contas públicas e também mantinha sob controle as transações correntes. Com
a queda dos preços do barril, a economia desmoronou.
— A crise é basicamente
fiscal e cambial, e elas se realimentam. Para o Brasil, a maior complicação é o
efeito nas empresas que atuam lá ou exportam para lá. Não é o melhor lugar pra
se fazer negócio neste momento, pois o risco de calote tende a aumentar —
afirmou.
Desde 2001, o Brasil tem
tido superávits comerciais com a Venezuela. No ano passado, o número foi
positivo em US$ 2,3 bilhões. Dos US$ 2,98 bilhões exportados pelo país, mais da
metade foram produtos industrializados. Ou seja, as restrições de importação
dos venezuelanos são mais uma notícia ruim para a nossa indústria. Mas o pior é
sequer receber pelo que vendeu.
O grave, contudo, é a
situação dos venezuelanos. A composição da Suprema Corte foi mudada um pouco
antes da posse da nova Assembleia com juízes ligados ao governo. Agora, ela dá
uma interpretação que derruba a decisão da Assembleia de rejeitar o decreto de
emergência. Com ele, Maduro terá superpoderes num pais à beira do colapso.
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